Piano e terceira idade: muito mais que terapia, companheirismo e realização

29 jun Piano e terceira idade: muito mais que terapia, companheirismo e realização

Aprender piano pode ser, além de prazeroso, muito benéfico para pessoas de qualquer idade, principalmente os idosos, seja eles iniciantes ou veteranos na prática do instrumento

Quem convive com idosos percebe que, a partir de certa idade, ocorre um decréscimo de habilidades nessas pessoas, especialmente memória e flexibilidade de pensamento. A boa notícia é de que, além de isso não ser regra, essa situação é reversível e pode ser evitada. E uma das melhores práticas para quem quer chegar à terceira idade com qualidade de vida é o estudo de piano ou outro instrumento musical.

Segundo Irani Argimon, especialista em envelhecimento e professora da Faculdade de Psicologia da PUC do Rio Grande do Sul, na terceira idade há uma perda natural das células, mas o declínio é leve. Quando à perda de habilidade, ela é categórica. “Em pessoas ativas, isso não é verdade”, esclarece.

O fato é que, em um País em que tanto a expectativa de vida quanto a população de idosos cresce, não são raros os casos de quem quer aprender coisas novas, seja para preencher o tempo ocioso, exercitar o cérebro ou, o que é mais importante, realizar um antigo sonho.

Para Maria Lúcia Sobral, de 72 anos, a possibilidade de aprender piano é uma realização. “Sempre quis, mas, quando era mais nova, a necessidade de trabalhar e as obrigações com a casa e os filhos me impediram”, conta. “E no espaço disponível no apartamento não cabia um piano”. Agora, com tempo livre e um piano digital que resolveu o problema de espaço, a aposentada se realiza ao mesmo tempo em que usufrui dos benefícios que a prática do instrumento pode trazer. “O tempo passa rápido quando estou ao piano, e sinto que tenho mais atenção para outras coisas do dia a dia”, afirma a estudante.

Benefícios do estudo do piano para a terceira idade

 

Que o aprendizado de um instrumento musical traz benefícios em qualquer idade, já está mais do que provado (Veja os artigos publicados pelo porta ZH Planeta Ciência e eCycle).

No caso da terceira idade, há ainda outras vantagens, como a diminuição do estresse, com consequente melhoria do bem-estar e da qualidade de vida, reduzindo os sentimentos de ansiedade, solidão e depressão. Além disso, dedicar-se ao piano ou a qualquer outro instrumento musical traz benefícios para a convivência social e promove o desenvolvimento criativo.

Do ponto de vista prático, age sobre a memória e o movimento das articulações, além de estimular a ação dos dois lados do cérebro, trabalhando a área motora e retardando o processo de envelhecimento.

Alguns estudos demonstram que aulas de piano para idosos estimulam o aumento da produção do hormônio do crescimento, colaborando no aumento do nível de energia, das funções sexuais e da massa muscular, ajudando a prevenir a osteoporose e as rugas.

Apesar de todos esses benefícios, há alguns entraves que dificultam qualquer aprendizado para pessoas de mais idade, aos quais o professor ou orientador deve estar atento. O mais preocupante e limitador é a ansiedade – tanto do aluno quanto do professor – em atingir resultados.

Embora a capacidade de aprender esteja presente durante toda a vida, a forma como a aquisição de novos conhecimentos ocorre sofre variações. Na terceira idade, a aprendizagem tem que ser gradativa, respeitando etapas. A autocritica do aluno nessa fase da vida é enorme e é necessário estimulá-lo e apoiá-lo, afastando-se do tratamento infantil ou condescendente, mas respeitando-o em suas dificuldades e habilidades.

 

É importante compreender que, ao contrário de crianças ou adolescentes, o professor ou orientador está tratando com uma pessoa já formada, com uma história de vida consolidada, que, muitas vezes, quer compartilhar seus conhecimentos ao mesmo tempo em que deseja adquirir novos.

Além disso, o convívio com o professor e a conversa franca faz que o aluno da terceira idade se sinta objeto de atenção e, muitas vezes, é uma das poucas oportunidades que ele tem de se expressar. A compreensão de que esses encontros podem se tornar uma rica troca de experiências é fator determinante para o sucesso das aulas, colaborando para elevar a autoestima dos alunos e, como consequência, seu aprendizado.

O ensino do piano para a terceira idade, portanto, exige do profissional muito mais que conhecimento técnico. Além de metodologia e repertório, são necessárias boas doses de compreensão e dedicação, de modo a entender como e porque esses exigentes alunos valorizam os momentos de contato com o instrumento.



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